10 de outubro de 2009

Stênio Andrade

CP #8 - Depois dos 18...


“Quando eu for grande...”. Todo jovem menor de idade já traçou planos para o dia em que ele se tornará um adulto. Data na qual não mais estará sujeito às regras de terceiros – apenas à Lei -, se verá livre das recomendações maternas e quando terá todas as 24 horas do dia para serem utilizadas como bem entender – não importando se seu retorno se dará às 23h34 ou 3h. Pela lei brasileira, esse dia é, por acaso, o mesmo em que esse indivíduo completa seu 18º ano a habitar o planeta Terra. Mas uma vez atingida a maioridade legal, há de fato grandes mudanças na vida dessa pessoa?

Para o estudante Ange Biniou, que completou 18 anos de idade no mês de julho, “não muita”. “Só não preciso mais fingir para entrar nos bares e boates”. De acordo com o rapaz, completar 18 anos não difere em quase nada da época em que ele tinha 17 pelo fato de ainda morar com sua mãe e ainda não possuir seu próprio carro. “Eu continuo não tendo como me bancar, não tendo casa. Ainda vivo debaixo do teto da minha mãe, uso o dinheiro dela, então tenho que viver sob as regras dela. A maioridade serve para fazer você se sentir melhor, mas não é enormemente diferente dos 17. Eu esperava muito mais do que é”.

Segundo a psicóloga Rosana Azambuja, essa ‘frustração’ se dá pelo fato de haver uma “idealização” de que, ao chegar à maioridade, o jovem não será mais obrigado a “dar satisfação aos pais”. “Não há uma mudança repentina de liberdade. Ela já vem acontecendo desde antes. Hoje, vemos jovens de 16 anos frequentarem baladas normalmente. Parece que esta liberdade está cada vez mais precoce”.

Mais livre, mais responsabilidade
Isso não quer dizer, porém, que tudo continue igual. As responsabilidades aumentam. “É claro que você se sente um pouco mais livre. Afinal, tirando seus pais, você pode ir para onde quiser, entrar onde bem entender, sem que nada impeça. Uma parte do mundo se abre para você”. “Agora também tenho que tomar cuidado com o que faço. Além disso, preciso me dedicar ao futuro. Este ano tenho a responsabilidade de fazer com que tudo mude passando no vestibular”.

Para Rosana, tais novos encargos são o marco de que “a infância definitivamente ficou para trás”. “Além da maioridade civil, aos 18 anos a pessoa já pode tirar a carteira de motorista. Isto equivale, emocionalmente falando, a poder conduzir sua própria vida. Além do mais, há a exigência pessoal e social no que se refere ao futuro, ou seja, ‘o que ser quando crescer’”, diz a profissional.

Superpoderes
Ainda que ciente de tudo isso, uma vez que já foi alertado por seu irmão mais velho – que atualmente tem 19 anos -, o também estudante Rafael M., 17, está ansioso para que seu próximo aniversário chegue rápido. “Falta pouco! Quero tirar minha carta de motorista logo, poder beber sem esconder, entrar nas baladas sem ficar nervoso na fila pensando se o segurança vai pedir o RG ou não”. “Desde o início deste ano eu fico torcendo para que meu dia chegue logo. Quero ser livre”.

A mesma atitude de Rafael é vista em grande parte das pessoas prestes a se adentrar no mundo adulto. De acordo com a psicóloga, no entanto, caso essa ansiedade seja muito aguda ela pode interferir na própria adolescência. “Viver no ‘futuro’ geralmente impede [o jovem] de viver de forma plena o presente. Cria-se uma expectativa do que poderá vivenciar no futuro, mas não se presta atenção ao que está acontecendo agora. Geralmente, quando o futuro chega, as expectativas não são cumpridas da forma como se sonhou, então acontece a frustração”.

É o que conta Vítor C., que completou 18 anos em maio: “antes do meu aniversário eu comecei a ficar meio chato, achando que todos aqueles programas que meus amigos queriam fazer eram coisa de criança; que eu, com quase 18 anos, deveria deixar de fazer. Acabou que agora eu vi que todos nós continuamos a fazer as mesmas coisas, com a única diferença de podermos ir de carro”.

Nas palavras de Ange: “você simplesmente faz 18 anos. Não ganha a chave da cidade, não ganha super poderes. Só fica mais velho”. Hoje, a expectativa é outra. “Agora [aguardo] os 28 anos, porque já vou ter vivido minha juventude. Já pretendo estar trabalhando, tendo minha vida, vivendo sob minhas regras. Espero ter atingido meus objetivos. E fazer meus próprios super poderes”.

E você, já completou sua maioridade? Acha que muda alguma coisa? Comente!

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