1 de dezembro de 2009

Stênio Andrade

Velhos Tempos

A velhinha está deitada na cama, de camisola, quando o marido dela se deita, a uma distância de quase um metro.
Ela protesta:
— Quando éramos jovens você costumava se deitar bem pertinho de mim na cama. . .
Ele fica um instante imóvel e, depois de alguns segundos, chega mais perto da esposa, que continua:
— Quando nós éramos jovens, você ficava abraçadinho comigo e segurava a minha mão!
O marido parece não acreditar na crise existencial da esposa, mas pega na mão dela e a abraça, como nos velhos tempos. E ela ainda não se dá por satisfeita.
— Quando éramos jovens, você costumava dar mordidinhas na minha orelha.
Ele dá um longo suspiro, joga a coberta de lado e sai da cama.
Visivelmente ofendida, ela diz:
— Aonde você vai, Jacinto?
— Ué! — responde o velho. — Vou buscar minha dentadura!

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