25 de agosto de 2010

Stênio Andrade

João um personagem

João era puro sentimento. Tinha a pele lisa de carinho e os olhos brilhantes de paixão. João era torto, feio e tímido. Escrevia poemas que nunca eram lidos. Amava uma garota que nunca era vista. Falava com as paredes por serem suas amigas. João era um êxtase da juventude. Ele rasgava suas camisetas.

João gostava da sensação típica de vários pré-adolescentes - e que eu aposto que vocês, que estão lendo tudo isso, também ainda adoram: andar na rua e sentir o vento bater no cabelo, fazendo os fios voarem e baterem no rosto, como se fossem livres. Livres do corpo. Livres do personagem. Livres da pessoa. João adorava pegar o metrô porque o vento chegava com força. João adorava dias de chuva porque o cabelo machucava. João adorava cantar no chuveiro porque o cabelo era rock star.

Além de gostar dos ventos e das camisetas rasgadas, João também gostava de ver. Ver a mulher passar. Ver o padre rezar. Ver o cara cair. Ver a vida andar. Ver o cachorro comer. Ver a luz apagar. Ver a mão cozinhar. Ver a irmã chorar. Ver o amigo gritar. Ver a amante trair. Amante? Amante dos sonhos.

João era puro sentimento, mas não sabia o que era amar. Sabia que doía, sabia que fazia chorar. João sabia que tinha aquela brincadeira de encantar, de olhar, de sonhar, mas não sabia - e acho que nem queria - saber o que era amar.

Todo carinho, toda paixão que nunca fora usada. Ninguém nunca quis João. Eis que aparece Maria. Clichê. Maria e João. Os dois eram um casal. Maria apareceu feliz, encantada, amante, amada. Maria jogou com João. Maria brincou. Maria traiu. Maria chorou. Maria iludiu. Maria brigou. Maria inverteu. Maria gritou. Maria bateu. Maria correu.

João conhecera Maria.

Talvez fosse melhor não.


Tive que ler seu texto três vezes! Não que ele não esteja claro, pelo contrário! É que me fez pensar em tanta coisa. Engraçado isso. No primeiro parágrafo em meu vi no João. Acho que todo mundo é meio João em alguma fase da vida. Ou não.

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