31 de março de 2012

Stênio Andrade

E SE A VIDA ANDASSE PRA TRÁS?

Acho que o homem deveria nascer com oitenta anos. Nasceria com oitenta anos, iria ficando mais novo, mais novo, mais novo até morrer de infância! Chego inclusive a imaginar uma mãe falando sobre o nascimento do filho: “menina, meu filho nasceu! pensei que não fosse nascer mais, tava encruado, nasceu com oitenta e quatro anos, mas perfeitinho um metro e oitenta e dois, setenta e oito quilos. Eu ia botar o nome dele de Eduardo, mas ele próprio foi ao cartório e se registrou como Pedro Henrique! “E nos berçários, aquela fila de cadeiras de balanço, com velhinhos sentados, tossindo e pigarreando. Todos assistidos por geriatras, já que padecendo eles todos dos males comuns aos recém nascidos: gota, artritismo, lumbago, reumatismo (eu nem sei! )O homem nasceria com oitenta anos, aos sessenta se casaria com uma mulher de cinqüenta e nove, mas com uma vantagem: a cada dia, a cada semana, a cada mês ela ficaria mais e mais jovem, até se transformar numa gata de vinte!Com oitenta anos nasceria rico, sábio e aposentado. A partir de então, passaria a ganhar menos. Entraria para faculdade, desaprenderia tudo. Voltaria aquele estágio de ingenuidade, de burrice, de pureza. Depois a bicicleta, desaprenderia a andar, esqueceria como engatinhar. Então o andador, do andador para o chiqueirinho, do chiqueirinho para o berço, as trocas de fraldas, aquelas três gotas de remedinho no ouvido, o chá de erva doce para dor de barriga, a chuca, o peito da mãe e pararia de chorar.Mas a vida, então teria que ser recriada, o mundo teria que regredir séculos. Cabral e Colombo desdescobririam o Novo Mundo, o homem desinventaria a roda, atingiria o desconhecimento da pólvora e do fogo, até chegar a Adão, o último homem. O último e primeiro a quem Deus, colocando sobre sua mão, em vez de lhe soprar a vida, o inspiraria novamente para dentro de si mesmo.

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